E da lágrima que brotou Botões vermelhos surgiram Embalados ao véu da noite E cada canto contido Escondido Extraído agora Nessa onda noturna Onde tudo é silêncio e descoberta Uma luz no fim do túnel Um beco onde há saída Vida.
E porque sempre foi assim não quer isso dizer que sempre
será. O que digo hoje pode não ser o mesmo amanhã. A brisa que hoje passeia
leve pelos meus cabelos pode voltar no futuro como fúria de vendaval.
Carregando consigo pó de minério que um dia brilhou. Não quero prender-me a
erros idos em dias tidos como bons. A vida expressa e contida em versos me
espalha e desnuda a alma presa ao corpo que acorrenta. E é quando morro que
acordo para desejos e anseios. Incontinência arbitrária que atira-me ao longo
da tarde. Nessa chama de fogo-fátuo é que me espreguiço e sigo. Nuances de
cetim e carmim que brotam de meus lábios. E não adormeço enquanto cada palavra
que ouso dizer não couber em minha boca. Ainda bebo cada gota contida nesse
cálice. Manhãs inversas, tardes cálidas, noites frias. E longas, insones. Deve
ser porque durmo chorando que amanheço poesia. Quem ama entende bem o que
digo...
Por dentro, me vejo E será esse meu segredo Aquele que se expõe
Grita, gira o mundo E volta sempre pra ti Marco em minha mente Teu beijo de serpente Pronto pra me devorar Sorvo cada semente Desmedidamente de ti E transcendemos Quebramos os espelhos enfim.
Em meus sonhos pinto e bordo Transbordo Teço teias penetráveis Sempre voando, bailando, cantando Nos meus sonhos vejo a luz Desde o início do túnel Tinas e mais tinas de água límpida Cachoeiras embalando sonhos alheios Nos quais penetro sorrateira Com cara de quem foi convidada Em meus sonhos posso ser o que quiser A menina zangada, mulher amada, adolescente malcriada Posso ser até a sábia anciã, se quiser Percorro casarões antigos Recantos sombrios Percorro vales verdejantes Recantos encantados Em meus sonhos estou sempre só Me vejo pelo avesso Sou de dentro pra fora Qual observador arguto Escuto Vejo pessoas sorrindo, amando, chorando Vejo além Em meus sonhos. Luciana Silveira
Por amor, por tanto amor, perco-me na Vida, não sei quem sou, não sei já o que faço! Por amor dou-me todo: sofro, choro, peço perdão, Perdoo e esqueço o mal! Por amor vivo e respiro quem amo, como nunca amei! Destino? Sim, destino intenso, com pedras no caminho, mas o amor é assim: não aparece como um presente! Conquista-se…! José Manuel Brazão [...] O amor faz perder-se Para então encontrar-se Amor é dádiva sagrada Sem definição correta Mas nunca palavra incerta Por estar além da compreensão O amor anda nos ares De quem o sabe conquistar Palavras doces, carinho pleno Quando dói, sinal que é real Por mais que se tente enganar A vida, sua morada O coração, seu lar Amar é estar vivo É respirar suspiros vários É canção de tons sublimes É desapego e sossego Ser amor é repartir a paz
Costurando palavras Bordando sentimentos Vou tecendo esse véu Que paira sobre nós A lua acesa no céu Desfazendo os nós Rompendo auroras Na fraca luz do quarto Abraçada ao travesseiro Sonhos refazendo-se Deixando apenas O que nos resta Colagem de alquimia Enxoval de quimera E tudo mais é amor Silêncio e luz E tudo mais é paz Luciana Silveira