E porque sempre foi assim não quer isso dizer que sempre
será. O que digo hoje pode não ser o mesmo amanhã. A brisa que hoje passeia
leve pelos meus cabelos pode voltar no futuro como fúria de vendaval.
Carregando consigo pó de minério que um dia brilhou. Não quero prender-me a
erros idos em dias tidos como bons. A vida expressa e contida em versos me
espalha e desnuda a alma presa ao corpo que acorrenta. E é quando morro que
acordo para desejos e anseios. Incontinência arbitrária que atira-me ao longo
da tarde. Nessa chama de fogo-fátuo é que me espreguiço e sigo. Nuances de
cetim e carmim que brotam de meus lábios. E não adormeço enquanto cada palavra
que ouso dizer não couber em minha boca. Ainda bebo cada gota contida nesse
cálice. Manhãs inversas, tardes cálidas, noites frias. E longas, insones. Deve
ser porque durmo chorando que amanheço poesia. Quem ama entende bem o que
digo...
Luzciana Silveira
Luzciana Silveira
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